Antologia II: O Amor e a Poesia

 


          Amor Verdadeiro    (01)

                        No começo dessa loucura,
                foi apenas uma aventura,
                como tantas outras, então...
                fuga sem direção,
                uma corrida no meu mundo vadio...
                medíocre, sem cor... vazio.

                E tantas fugas vivi por aí,
                que não entendi o mundo girar,
                não percebi o tempo passar,
                não ouvi o céu me avisar,
                não vi tudo mudar,
                nem senti meu coração se entregar.

                E eu antes... um "descrente",
                um confesso "praticante ateu",
                me senti diferente,
                e passei a acreditar,
                hoje me vejo clamando a Deus,
                pra você nunca deixar de me amar.
 

 

        Teu para sempre    (02)

              Resolvi me entregar a ti,
              sem direito à renúncia,
              sem exigir nada em troca,
              nem impor qualquer outra condição...
              dar-te-ei o melhor de mim!

              Meu corpo e meus pensamentos...
              já não me pertencem mais,
              agora, sou apenas uma marionete,
              um joguete qualquer em tuas mãos,
              para satisfazer as tuas vontades!

              Sou um ser que não quer ser de mais ninguém,
              um coração sem vontade própria,
              todo... todo a tua inteira disposição.
              Portanto, tu serás a minha única dona... 
              venhas logo tomar posse de mim!

              Não fugirei ao destino,
              está escrito nas estrelas,
              o meu "eu" será sempre "teu"...
              foi Deus quem me deu,
              esse amor maior que eu!


            O Amor e a Poesia    (03)
 

                             Pensei em te conquistar,
                   tentei te dar a lua e as estrelas,
                   pulei, pulei... pulei tantas vezes até cansar.
                  Tão distantes delas, não consegui alcançar.
 
                   Mudei de ideia...
                   tentei te dar minha alegria,
                   sorri, sorri... sorri até arrefecer meu sorriso.
                   Entretida, você nem me percebia.
 
                   Mudei de ideia...
                   tentei te dar meu olhar,
                   olhei, olhei... olhei intensamente até gastar.
                   Distraída, você nem me notava.

                   Mudei de ideia...
                   tentei chamar teu nome...
                   gritei, gritei... gritei até a voz sumir.
                   Alheia, você não me ouvia
 
                   Mudei de ideia...
                   resolvi te dar o melhor que restava em mim,
                   escancarei o coração...
                   te entreguei fugazmente minha poesia.

  

O Sol pode esperar    (04)

Vem bailando madrugada,
me espera na chegada,
traz pra mim meu benquerer.

Meu coração maltrapilho,
insensato... andarilho,
cansou de tanto sofrer.

Me conta os teus segredos,
os teus sonhos, os teus medos,
me diz... quero saber.

Faz dos teus encantos a magia,
do teu colo a poesia,
para o meu amor viver.

Desperta a manhã raiada,
nos braços da mulher amada,
bem mansinho... o sol vai nascer.


Contradição (o mal e o bem)    (05)


O que é contradição de mim em ti?
Pode ser entendida de várias maneiras:
Ser o sim e o não, ao mesmo tempo;
O início e o fim, num instante qualquer;
O amar e o odiar, a uma só vez;
O ter e o se exaurir, abruptamente!


Pode ser o tudo e o nada, em uma conquista;
O clarão do sol e a escuridão da noite, num mesmo dia;
O belo e o feio, em um só momento;
O verso e o anverso nas páginas da tua vida;
Ou, ainda, o bom e o ruim no teu caminho...
Quem sabe não seja a alegria e a tristeza na paixão?


Sou contraditório, sim...
Isso faz parte da minha maneira de ser e agir contigo:
Sou múltiplo e único, a olhos vistos;
Sou convencional, ao tempo em que me faço mais ousado;
Sou desejo ardente em cada gesto de carinho;
Sou o MAL que sempre quer o BEM!

 

Folhas Secas ao Vento    (06)

Folhas secas ao vento,
natureza morta,
coração dilacerado.

Folhas secas ao vento,
lembranças perdidas na memória,
amor partido.

        

Fiz    (07)
 

Fiz dos meus versos,
o meu universo...
pra te conquistar.

Fiz da minha poesia,
a minha fantasia...
pra te amar.

Fiz do meu medo,
o meu segredo...
em te adorar.

Fiz da noite escura,
a minha loucura...
pra me afastar.


Fiz do meu tempo,
o meu unguento...
pra sarar.

              
           Amor Traiçoeiro     (08)

                   Olhei bem dentro do teu olhar,
                   vi a tristeza mais intensa desse mundo,
                   o grito da dor que não quer calar....

                   Segredo mais profano, mais profundo....
                   desejos lascivos de quem ama amar,
                   amor insensato, vagabundo!

                   Amor sanguessuga, controverso... estradeiro!
                   Ah, amor perverso.... amor traiçoeiro!

 

         Fome de Amor    (09)

Solidão pra mim é fome,
fome de carinho,
o amor partiu sozinho...

Solidão também dá medo,
amar tanto é meu segredo,
te perder foi o meu erro.

Por que chorar? Pra que chorar?
Meu amor... vou te encontrar!


     Poema de Amor    (10)

Um poema de amor...
é o que vem de dentro,
é um grito contido de dor,
um clamor...
é o coração latente...
pulsante!

São os olhos marejados,
as mãos trêmulas,
é o corpo que sente,
a voz embargada,
é o ouvido que cala,
um sopro d'alma!


Post Scriptum
 

Escrever é maravilhoso. Um dom que Deus deu ao homem para compartilhar emoções, ideias, experiências, sentimentos, percepções sobre a vida... E este "recanto literário" é um espaço democrático que permitiu desenvolver-me como autor em algumas modalidades.

Aqui, aprendi o que é indriso, aldravia, poetrix, haikai e outras formas de escrita. Conheci escritores, poetas, contistas, ensaístas e críticos literários, fantásticos, que produzem literaura de alto nível. Interagi, ainda, com muitos autores amadores e que também me enriqueceram com seus textos impregnados de beleza, criatividade e pujança.

Costumo dizer que não tenho estilo. E é inteira verdade. Talvez, a poesia seja a manifestação artístico-literária que mais me comova, embora, tenha prazer de escrever contos, causos, crônicas, trovas e até me aventurar em cordeis, indrisos e mais alguns experimentos.

Neste ano, porém, devo me dedicar somente as atividades laborais. Assim, decidi organizar meus textos por categorias. Isso, porque, ao longo da vida, perdi muito do que escrevi, por falta de mecanismos de controle e "desleixo mesmo", como dizia meu saudoso pai.

Depois de aglutinar os escritos, resolvi postar alguns, na forma de "antologias". Iniciei com um conjunto de 10 poemas, cujo cerne é a "relação de amor entre homem e mulher", em que homenageei o poetinha Vinícius de Moraes. Agora, republico mais 10 poemas, com as mesmas características, numa singela deferência ao gaúcho Mario Quintana.


Quintana foi poeta, jornalista, cronista, ensaísta e tradutor. Um homem simples, que, teve uma vida frugal e modesta, nos deixando uma obra densa e absurdamente espetacular. Era um frasista maravilhoso e grande pensador sobre as nuances da vida.

Curiosidade: o "Mario", do genial poeta, não tem o acento agudo tradicional, recomendado pela gramática para as paroxítonas terminadas em ditongo crescente (as chamadas proparoxítonas aparentes). Ele manteve a grafia original, ao longo da sua existência.

Morreu aos 87 anos, na sua amada Porto Alegre, na mesma semana em que o Brasil inteiro enlutou pela morte de Ayrton Senna. Provavelmente, isso tenha feito com que o desaparecimento do poeta tenha passado ao largo da grande mídia. 

Boa parte da vida, morou arranchado em hoteis. Quetionado por uma amiga sobre o diminuto apartamento em que habitava no Hotel Royal, gratuitamente, cedido pelo ex-jogador Paulo Roberto Falcão, retrucou: "Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas".


Nunca se casou. Sobre essa situação, dizia bem-humorado: “Sempre preferi deixar dezenas de mulheres esperançosas do que uma só desiludida”.

Candidatou-se 03 vezes à Academia Brasileira de Letras, sem obter êxito. Decidiu não concorrer a uma quarta tentativa, mesmo tendo sido procurado por vários acadêmicos, que lhe asseguraram uma eleição à unanimidade.

"Se Mario Quintana estivesse na ABL, não mudaria sua vida ou sua obra. Mas não estando lá, é um prejuízo para a própria Academia", declarou Luís Fernando Veríssimo (cronista e escritor).  

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 09/02/2021
Reeditado em 20/09/2022
Código do texto: T7180006
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.