Antologia III: O Amor e a Poesia


Minha rainha    (01)
 
Não fiques triste, minha rainha...
nosso amor não é tola ilusão,
rogo a Deus que sejas só minha,
tu és dona do meu coração.

Este coração que tanto te quer,
nas andanças da vida, o teu encontrou...
é de quem te fez tão amada mulher,
eternamente, por ti se apaixonou.

E se queres que seja teu rei,
te entregues sem nenhum pudor,
teu amante, então, serei...
serás sempre meu único amor.


             Teu Olhar    (02)

            Teu olhar sobre o meu,
         o calor me aqueceu,
         foi tudo tão de repente, 
         brotou a mais intensa semente,
         a paixão aconteceu.

         O coração bateu diferente,
         minha pupila tremeu,
         agora sou um inconsequente,
         te quero desesperadamente,
         pra sempre quero ser teu.


A mulher que Deus mandou    (03)

Não fiques encabulada,
porque te olho assim...
és a mulher amada,
que Deus mandou pra mim!


          Espera Eterna    (04)

                 Te esperei, te esperei, te esperei...
                  até o derradeiro minuto!

                  E, como não veio,
                  delonguei o tempo de espera,
                  porque viver sem você,
                  é respirar sem ar!


                  Aí... te esperei, te esperei, te esperei...
                  e continuei a te esperar, eternamente!


         Confissão de Prisioneiro    (05)

                Confesso... sou todo teu,
                pra sempre me prendeu,
                esse amor foi Deus quem deu,
                meu coração já não é meu.

                E eu que tanto procurei,
                por esse mundo muito andei,
                nessas andanças te encontrei,
                outra mulher jamais amei.

                Prisioneiro desse amor,
                sou esse bendito sofredor,
                angustia foi o que restou,
                quando você me abandonou.

                Mergulhado em meu penar,
                somente sei te esperar,
                com coração a palpitar,
                desejando te encontrar.

                E se um dia acontecer,
                meu amor perto de mim,
                posso até feliz morrer,
                essa saudade terá fim.

 

      Quando a Velhice Chegar    (06)

E, quando a velhice chegar...
ao teu lado quero estar,
pode o tempo inteiro passar,
mas, sempre irei te amar.
 
E. quando a velhice chegar...
e o meu corpo não mais reagir,
pode o mundo todo sumir,
o desejo por ti vai existir.
 
E, quando a velhice chegar...
e os meus olhos deixarem de ver,
pode até o sol parar de brilhar,
não vou deixar de te querer.
 
E, quando a velhice chegar...
e o meu coração fraquejar,
pode mesmo parar de bater,
essa paixão jamais vai morrer.

E, quando a velhice chegar...
e a fria madrugada surgir,
no teu corpo vou me aconchegar,
em teus braços, irei dormir.

 

Uso do Verbo     (07)
 

Eu uso o verbo...
em qualquer ocasião,
exprimindo "ação"...
comunicação,
emoção,
comoção,
animação,
altercação!

Eu uso o verbo...
até nas brincadeiras,
quando tem...
zoeira,
faladeira,
doideira...
Pois, se não utilizar,
pode acreditar,
"Tô" fazendo besteira!

Eu uso o verbo...
tenha certeza...
sobre "Fenômenos da Natureza",
expressando ocorrências,
reverenciando a beleza!
 
Eu uso o verbo...
como verbo de "Ligação",
e também "Auxiliar",
facultativos ou não,
a exemplo dos conhecidíssimos...
verbo “Ser” e verbo “Estar”!
 
E o verbo pode ser...
"Transitivo" ou "Intransitivo",
mesmo os dois juntos,
o tal "Bitransitivo",
todos utilizo...
sempre que preciso!
 
O verbo existe em toda "Oração",
que pode nem ter "Sujeito",
mas se não tiver verbo,
há algo errado...
a "Oração" tem defeito!

Enfim, eu uso o verbo...
pra falar...
conversar,
aconselhar,
esculhambar,
orientar,
avisar...
e, o mais bonito...
"Digo e repito",
é a todos ensinar...
conjugar o verbo “Amar”!

 

    Terno Bailado    (08)

No bailado entre côncavo e convexo,
Meu coração fugidio se apaixonou,
No início, a semente do desejo e sexo...
Por fim, o amor sublime desabroxou.


    O poeta, o amor e a dor da saudade    (09)

Saudade é dor doída,
pela ausência de quem se ama,
saudade é a chama ardente,
que o coração sente, chora e reclama.

Saudade é ter que não ter,
de tanto sofrer…
saudade é estar distante,
por te querer.

E... eu que te quero tanto,
e tanto preciso para viver,
 de tanto qu’eu amo,
amar tanto, você.


     A Magia da Sedução    (10)

Ah... se Deus me desse,
a magia da sedução,
te daria o que pudesse,
e roubaria teu coração.

Guardaria esse tesouro,
com todo o meu amor,
teu coração vale ouro
meu coração é sonhador.


POST SCRIPTUM

 
Com esta série, encerro os 30 poemas autorais, que escolhi para externar o sentimento mais profundo aflorado do meu interior: o amor à mulher amada.

Revivendo o contexto de cada poema, não posso negar que desnudam o amor verdadeiro, intenso e nem sempre correspondido..., mas, que me fizeram muito maior como homem. Nada que possa me arrepender de ter vivido sua plenitude.

Dedico a "antologia" ao grande Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira, funcionário público, jornalista, contista, cronista e poeta... apaixonado pelo "Clube de Regatas do Vasco da Gama", encheu-se de amor pelo Rio de Janeiro, escrevendo primorosas crônicas e importantes matérias jornalísticas, retratando a cidade, suas mazelas e seus costumes.

Mas, foi na poesia que deixou sua obra mais relevante e expressiva, sendo considerando por muitos "o mais importante e influente poeta brasileiro", pós-Semana de Arte Moderna.  As lembranças de Itabira sempre foram uma constante em sua magnífica obra.


Drummond ingressou no Partido Comunista Brasileiro (PCB), na década de 40. Mundando-se para o Rio de Janeiro, chegou a dirigir jornal do Partidão "Tribuna Popular", a convite de Luís Carlos Prestes (dirigente e líder partidário), onde realizou memorável e épica entrevista com o próprio Prestes, quando esse estava preso em cárcere público.

Casou-se com Dolores Dutra de Morais (1925), com quem teve dois filhos: Carlos Flávio, o primogênito, viveu apenas meia hora (e a quem dedicou o poema "O que viveu meia hora"; e Maria Julieta Drummond de Andrade, sua maior amiga e confidente

Morreu em 1987, aos 84 anos, doze dias após a filha. Estava lúcido e produtivo, até o falecimento de Maria Julieta. Depois... entristecido, possivelmente, desistiu de viver.

Nesse mesmo ano, ainda em vida, foi homenageado pela Estação Primeira de Mangueira (a sua escola de samba preferida), com o tema-enredo "O Reino das Palavras", sagrando-se campeão do Carnaval Carioca, naquele ano.

Com raízes no modernismo, seus versos seguiam os preceitos de Mário de Andrade e Oswald de Andrade: livres das amarras da rima e da métrica adotados pelas gerações anteriores, explorando as situações cotidianas. Assim, grande parte da sua poesia é considerada concreta e objetiva, abordando temas vinculados a sua ideologia e visão de mundo.

Muitos críticos afirmavam que os poemas de Drummond não seriam musicais. Contrariando essa tese, o baiano Paulo Diniz musicou os viscerais versos de "E agora José?", transformando-os em um clássico da MPB, gravado por vários intérpretes de prestígio.

E, o poeta e compositor cearense Belchior, nos últimos anos antes de encerrar sua trajetória artística e vagar pelo mundo, concluiu um extraordinário projeto: “As Várias Caras de Drummond”, lançado em 2004. São 31 poemas musicados por ele, sobre a obra de Drummond, em que mistura textos conhecidos, como "Sentimental” e “No Banco de Jardim”, com outros pouco divulgados. Para cada poema, Belchior desenhou gravura com o rosto do poeta mineiro
.

 

No final da vida, o "erotismo e o amor" se tornaram parte de seus poemas e demais escritos. Mas, sentimentos de "solidão, abandono, desesperança, ceticismo, ironia e inadequação ao mundo" sempre estiveram presentes na própria existência e em toda sua obra: "Poema de Sete Faces" e "Quadrilha" são dos mais populares e conhecidos poemas.
 
               Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo. 
                                     
                   
Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história  

Antônio NT
Enviado por Antônio NT em 16/02/2021
Reeditado em 20/09/2022
Código do texto: T7185432
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