Intro
Me esforço para engolir seu olhar
Veleiro sem porto,
Repousa em qualquer norte,
Escorre para além-mar.
Espero
Quando seus olhos alcançam o arco-íris
- e o arco-íris também derrete -
Me borrando de todo o colorido
Pra que seus olhos mastigáveis
Se dissolvam entre meus dentes.
Me esforço para injetar em mim
Toda a sua atenção,
Furacão de filosofia desperdiçada
Por muitos vulcões de frivolidade.
Ter seu pensamento correndo em veias finas,
Como são fragilmente finas as pétalas
Que se perguntam se subsistirão às guerras nucleares
Rogo
À graça que me molde em curvas exatas
E me adorne de colares reluzentes
Para receber sua mente doente
indecente, insolente.
E me conceda cumprimentar sorrindo
O diabo que exorcizo rezando.
Me esforço para tragar a fumaça
da sua inconsistência
E tê-la segura por uma fração de segundos
A ponto de crer, cega, em sua concretude
e textura dócil
Mas desejando- ainda que muito intimamente -
Só fumar essa fulgacidade de fóssil.
Torço
Para não ser eterna jamais
E peço às nuvens que chovam em mim
A força da mutação
Para suportar mansamente qualquer inexatidão
Até que se esvaia em fumaça e névoa
Meu tanto medo de você
expirar
de mim.
Fernanda Lobo