PERTURBAÇÃO DA ORDEM

No vidro do box desenharam um coração, no cóccix, um dragão,

Acabaram os dois grudados, pressionados pelo situação, no vão

Entre dois ambientes e quatro paredes, sem sinal para celulares,

Sem permissão para olhares, apenas o chão, o sabão e a toalha.

Bendita fome que devora, febre que aflora, não há porque cuidar,

Não costuma matar nada além do prazer, pode dizer que é tarde,

Fazer alarde e ser elogiada pela indiscrição, luzes, câmera, ação,

Lá vem maratona de seriados, rostos colados e muitas variações.

O sofá é só ponte para a cama, tem má fama, apesar de passivo,

É o crivo para quem se mostra insaciável, maleável, quase afoito,

Pretende chegar a oito e marcar seu nome na história, sua glória,

Superar limites, frustrar palpites, ouvir que é mentira de pescador.

O colchão foi testemunha, a unha cravada exigiu um grito, o agito

Pareceu normal aos envolvidos, tidos como pacatos, tão sensatos

E cumpridores de suas obrigações, choveram reclamações depois

De constatada a origem, afligem apenas os que se viram privados.

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