Como o percurso das ondas

Pactuei com as ondas:

Jamais deixarem incólumes as marcas das minhas trilhas no amor,

Por mais belas e prazerosas, ácidas e dolorosas.

Quero-te, e o desejo de te esquecer, pois por caminhos que doem, nossos pés se encontram nus.

Amar sem se perder não vale a pena.

As marcas não me dizem onde estou, mas dão sentido ao caminho.

Vem comigo, presente, já que como os navios tu partes de mim.

Eu também, não a buscar-te, senão a fugir da tua brisa.

Infiéis foram as ondas, indiferentes, posto que não te fizeram esmaecer.

Decerto não as conduzo, elas, sim, me navegam.

Quis mais do amor do que ele poderia me dar,

Mais daquilo que nunca alcancei.

Amar assim é viver, como ondas no ir e vir por sobre a orla,

Sangrando na areia tal qual dor a fugir da cura.

Desejar-te é mover-se para onde nunca se chega,

Porquanto chegar não importa;

Caminhar, sim, contigo.

Pés feridos a deixar suas marcas de amor ante as ondas.