whisky regado a cubos solidão

03:54 da manhã.

O lounge do bar parecia ficar cada vez mais minúsculo a medida que o tilintar do gelo no copo de whisky ecoava, perdida em meio aos pensamentos mal formulados e incontáveis drinks que já passaram por aquela mesa, aquele amontoado de pessoas estranhas e a música alta zumbia aos seus ouvidos, a boca daquele copo parecia uma imensidão no qual ela queria dar um mergulho profundo e talvez nem voltar à superfície, e naquele momento ela se perguntava o que estava fazendo ali.

A decisão de ir embora e tentar chegar em casa foi demorada, ao passar pela recepção e dar de cara com um espelho imenso a sua frente foi como um susto, ela não conseguia se enxergar ali, não apenas pelo estado nada sóbrio, mas pelo olhar vazio e perdido que lhe condenava. A caminhada até chegar em casa foi mais rápida do que imaginava, talvez pela falta de noção do tempo, ou pelo vento frio cortante que desencadeou passos apressados, mas ainda podia sentir em seu peito o calor da mistura da bebida que ardia intensamente junto as angustias que assolavam seu coração.

Ao chegar em seu apartamento e soltar um profundo suspiro foi uma completa sensação de paz, ali era o seu abrigo, o lugar onde ela mais se sentia a vontade, onde tinha seus detalhes espalhados por cada cantinho daquele lugar. Com seu jeito todo metódico tirou com delicadeza os sapatos na entrada e foi até a cozinha buscar água, abriu a geladeira e por uma fração de segundos se viu mais uma vez perdida em seus pensamentos, o pleno silêncio lhe tirou daquele transe e então foi tomar um bom banho pra recuperar o mínimo de decência que ainda lhe restava. Vestiu um pijama leve e foi deitar, mas antes, ao passar pelo corredor até seu quarto, pôde observar a vista incrível bem do alto de seu prédio e perceber como o céu estava num misto de cores pesadas, com estrelas escondidas entre as nuvens mostrando um amanhecer que estava bem perto de chegar, e foi então sob esse olhar que ela adormeceu em um sono profundo.