IVICH

Bem distante duma dor insone.

Acomodei-me às trevas da idade.

Do meu “nome”.

Bem perto de pesadelos e noites medonhas,

desperto no limiar da solidão,

às alturas da razão.

Enquanto lembro da cantora viciada de um bar-

me matando.

Me odiando só em pensar!

Ódio apenas no olhar -,

observo-a inclinada sobre minha cama,

ameaçando alguma hora despertar.

Vivo agora,

recluso às escuras destas eternas horas.

Contemplo para sempre, o cântico perturbado de sua respiração.

Quando não, admiro-a escravizada pelos sonhos...

Em aflição!

Sutilmente,

sua boca rosada,

porém descuidada,

entrega à fria madrugada,

outros nomes e seus homens.

Confessa seus devaneios de menina.

São desejos de quem se esconde nas matinas.

Fogem de mim!

Ficam acolhidos, no corpo, no peito.

Omitem-se aos seios pequeninos,

nos quais, às tardes me deito.

Se a possuo, adormeço ao colo dela.

Durmo também o sono dela.

É nos seios angélicos, onde meus lábios se queimam.

É o êxtase de meu ego!

É uma vaidade que zelo.

É!..

E me mantém puro, em impulsos cegos.

Calo-me derrotado,

inutilmente sob a interrogação dos seus dias imaturos.

Dos seus demasiados traços.

Seus peitos pontiagudos.

Seu triângulo de pêlos, entre as pernas trêmulas.

Seus finos dedos.

Suas transparentes unhas.

Suas as ancas flácidas.

Sua nudez refletida na penumbra.

Seus ímpetos e anseios, sinistros, dos jovens,

ainda insatisfeitos...

Seu amor por mim, então acabou!

Fim de linha, passou!

Adentro fases de pavor.

Devo pensar: “Ivich, jamais disse nada”.

Abrir uma gelada champanha.

Deixar-me continuar, apaixonado!

Seduzido pela traição de uma insônia.

( RODRIGO DE OLIVEIRA )

*ESCRITO SOB INFLUÊNCIA - In: SARTRE, J.P. A idade da razão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

RODRIGO PINTO
Enviado por RODRIGO PINTO em 06/11/2007
Código do texto: T725227