Doce paixão
Doce paixão, por que não me deixas
Como nos tempos em que eu te amava?
Teu espelho reflete-se em mim e chama
Os afagos infactíveis de quem jamais
Um beijo por amor pediu.
Mas persiste na doçura. Ouço tua voz
Macia na aurora que desponta; voz suave
Que delineia com todas as sílabas o amor,
E aquele frenético e rápido lampejo
Que me clareava o desejo e enaltecia
O encanto de minha tenra emoção.
Então, curvo-me diante de teu chamado,
Ouço teu nome, parte de ti que ainda guardo
E continua a viver, refletindo em sonoras ondas.
Constrito o amor que te transforma
E te beijo, beijo com intensidade o inexistente.
Amada paixão pervertida, por que não me deixas?
És tão ilusória que um dia se tornará real
Já nem posso dizer se és trevas ou raio de luar
Ou noite que sempre fora, e se em nossa vida
És lembrança de cartas mal escritas no passado.
Sob chamas apagadas que um dia busquei.
Tentei conquistar um dia teu corpo e do olhar
Arrancar com versos rotos o amor que sonhei
Alcançar a felicidade para não mais chorar
Felicidade dum amor platônico solto no tempo.
Queria de ti o que não tinhas para me oferecer,
O amor presente a perseguir-me eternamente
Jamais pensei que depois de tanto tempo fostes voltar
Com a mesma intensidade e meus dias transformar
E me evocar com tanta bondade, doce paixão
Chama ardente, que sem sexo, torna-se amizade.
Tua pressa me consome intensamente.
Tua inverdade em meu rosto se desfaz.
Tua doçura me faz viver muito mais.
Doce paixão, loucura veloz e sagaz.
Beijos procê, menina nascida dos madrigais!