Se te ver na fila do mercado.

Um dia te encontrarei.
Nem que fora na beira do abismo,
caindo contigo.
Caindo comigo.

Todos os copos que virei essa noite nunca serão,
não o bastante.
Ninguém é suficiente.

Abraço postes,
beijo lápides.
Arranho algumas cordas enferrujadas.

É, um dia.
E irei fingir que estou falando ao telefone,
passar reto.
Igual você dentro de si mesma,
negando o que tinha vontade.
Acenando e deixando qualquer pedaço de saudade se espatifar contra o muro.

Sempre com seus sapatos,
mostrando a metade da parte superior do pé.
Nunca te deixou alta o suficiente,
nem a bebida te engoliu.

Como um pavio pegando fogo,
a ponta dos dedos pra apagar.
Desejei nunca ter te acendido,
não por hora.

O ano está indo embora, comigo de carona,
e
deixo um rastro de perguntas inacabadas,
de coisas que não terminei e que não irei
terminar.

Um dia,
com seus seios no horizonte se tornando
prepotente e arrogante.
Podendo desviar qualquer olhar
com uma palavra amarga.

Irei mudar o lado da calçada,
pisar mais no acelerador,
correr contra o vento.

Podendo assim, pelo menos,
fingir que escondo toda a dor.

Caminhos duros até lá.