Amar e esperar

O destino me disse que poderia ser você,

você por toda uma vida,

olhos esverdeados,

olhos castanhos,

cabelos ruivos,

cabelos loiros,

sorrisos cálidos,

carinhos suaves,

tantos amores,

tantos diálogos,

pouca vida,

buscando um toque,

um beijo de despertar,

um rodopiar pela chuva,

um namoro sob a lua cheia,

sussurros no escuro do cinema,

mãos dadas na poesia dos dias,

quantas vezes me apaixonei,

de todas guardo rememorações,

perfumes de uma eternidade em minutos,

batom no colarinho de camisas esquecidas,

tilintares de taças de vinho pela metade,

e talvez sempre tenha sido isso,

parte, meio, jamais inteiro,

porém amei, amei de verdade,

amei torrencialmente e torridamente,

amei como tempestade e incêndio,

amei como calmaria e maresia,

no dedilhar de músicas à meia noite,

escutando Elton John cantar Blue Eyes,

compartilhando sentimentos e histórias,

enredos de quem eu era e quem queria ser,

narrativas de um passado desfeito em soluços,

vida solitária que seguia mesmo acompanhado,

sombra que não conseguia se iluminar,

na melancolia de uma existência caída,

de uma alma torturada por si mesmo,

por querer demais o impossível,

por desejar o inalcançável,

me perdendo à cada viela, à cada romance,

à cada término sem despedidas,

como um livro sem final ou uma nota sem partitura,

olhando da janela as luzes da madrugada,

vidas que acontecem em famílias que não tenho,

amores que sobrevivem ao tempo que não me pertence,

dores que se prolongam no infinito,

amei tanto e em vão terminei só,

coração saudoso, lágrimas indesejadas,

voz silenciada por falas não permitidas,

no entra e sai de passageiros nesse coração

maldito por tantas pessoas como "de gelo",

mas que afinal sangra como meu espírito açoitado,

pelos pesadelos de vidas passadas e dissabores infinitos,

em cada erro, em cada desespero, em cada desvio,

machuquei e me machuquei no movimento da jornada,

atraiçoado por dramas e insistências falidas,

e o que sobrou senão lembranças de amores e dores,

causadas e sentidas, vividos e sepultados,

no cemitério do perpétuo sofrimento,

sou fantasma, sou anjo de pedra tumular,

edificado no mármore frio e deslizante,

esperando uma chance de novamente amar,

se alguma divindade conseguir me perdoar,

talvez para nessa nova vida me libertar...