Sofrimento

Donzela casta, flor dos meus amores
Com quem sonho nas noites mal dormidas;
Razão do meu sofrer, das minhas dores,
Mas que amaria em outras tantas vidas!
 
Quando tu choras ficas tão mais bela:
- Banha teu rosto nestas águas puras!
Pareces com a flor rosa e singela
Que no roçado nasce entre as verduras.
 
Dói o choro de amor, bem sei o quanto
Eu choro assim quando a noite declina!
E ao frio orvalho se mistura o pranto
Que embebe o prado verde da campina.
 
Donzela casta! O sol no céu fulgura!
E vai cortando os ares na amplidão;
Assim caminho nesta mor tristura
Também amando, mas na solidão!
 
Quando em teu leito de purpúrea renda
Pensas em mim – sonhando assim tão triste
Também penso em ti! Que dor horrenda!
É a dor deste amor que aqui existe.
 
E se nos sonhos acaso eu te vejo
Fica mais longa a noite de tormenta!
São iguais aos sons do meu arquejo
O som da onda que a pedra arrebenta.
 
Soframos juntos! Fica mais vistosa
A flor quando a procela lhe fustiga;
Donzela casta, amiga donairosa,
Sofre comigo, sofre minha amiga!



 
Allves
Enviado por Allves em 18/06/2021
Reeditado em 18/06/2021
Código do texto: T7281859
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