Camoneando (ou o Cupido e o poeta)
Não me venha, Amor, pregar peça
Nesse ainda combalido coração
Que se fere a cada vez que tropeça
E mal tem tempo para cicatrização.
Apieda-te deste errante peito,
Algoz que foi da própria felicidade
E que entrega ao tempo o jeito
De fechar as portas à soledade.
Ao poeta responde o tirano Cupido:
- Tolo! Não me feches a porta assim
Ninguém sobrevive só e sem mim.
Luta, se me queres contigo dividido
Liberta-te do medo de ser triste ou feliz,
Coração guerreiro carrega, sim, cicatriz.
Cicero - 22-07-21.