Meu poema preferido de BANDEIRA!

Boda espiritual

Tu não estas comigo em momentos escassos:

No pensamento meu, amor, tu vives nua

- Toda nua, pudica e bela, nos meus braços.

O teu ombro no meu, ávido, se insinua.

Pende a tua cabeça. Eu amacio-a... Afago-a...

Ah, como a minha mão treme... Como ela é tua...

Põe no teu rosto o gozo uma expressão de mágoa.

O teu corpo crispado alucina. De escorço

O vejo estremecer como uma sombra n'água.

Gemes quase a chorar. Suplicas com esforço.

E para amortecer teu ardente desejo

Estendo longamente a mão pelo teu dorso...

Tua boca sem voz implora em um arquejo.

Eu te estreito cada vez mais, e espio absorto

A maravilha astral dessa nudez sem pejo...

E te amo como se ama um passarinho morto.

(Manuel Bandeira, in a cinza das horas, 1917)

SiReNiA
Enviado por SiReNiA em 12/11/2007
Código do texto: T734230
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