Amor efêmero e eterno
Fruto do efêmero, todo o amor terreno
Mais grita e sofre sonhando com o eterno.
Melhor que voasse logo; mas não é pequeno
O furor de tua sede que me deixa aceso e terno.
Intimidade das bocas ou de um mero aceno,
O amor foge às pressas ao consumo do inerente
E em nossas fracas veias é inoculado seu veneno:
Eis os corpos febris enlaçados, de repente.
Acariciando o teu seio, o tempo pouco estanca
Os limites da noite na cama, e o céu se aclara,
Ante esta paixão que te fez mais bela e branca
À luz das estrelas que te acham assim: tão rara.
Acordo-me infinito em ti, e o teu sol nascente
Repõe dentro de mim o homem que antes era.
A minha ancestral tristeza não mais se sente,
E teus lábios acordam todas as primaveras.
Somos brasas do desejo, e em luz ardemos
Presos perpetuamente ao que deveras seria
O brilho do Amor em nossos corpos, a alegria
Do imortal horizonte em que nós nascemos.
Esse amor que vem e vai, sombra de imprevista
Clareza, a solidão dos amantes não se imagina
Cativa, livremente, ao encanto do desencantado
É preferivel a dor de amar a nunca ter amado!