BAÚ DA SAUDADE

Vivi-te em dias de glória,

Minha morte inglória, sem ti,

Em tantos momentos eu pude sorri,

Mas viver sem ti é viver sem vitória,

É morrer sem ter glória;

É viver e morrer é infarto!

Sem a morte, de fato!

'Vesti-me' de ti!

E quem sente tudo que eu senti,

Saberá que 'vestir-se' de alguém,

Despido, morrerá aquém,

Esvaindo-se em dor.

Nem sei se isto é amor

Ou é egoísmo que causa a dor!

Melhor é deixar que o 'vento', suba,

E refresque ao céu.

Mesmo que os olhos, encham aos lagos,

Onde cessaram os afagos

E ficaram os estragos

De um amor que agora é só seu.

A vermelhidão do céu, meu sangue!

As folhas não balançam. Minha tristeza!

O chão sempre molhado, meu pranto!

Minha vida sem graça, não tê-la!

Durma! Pois, meu amor à balança!

Meu gemido canta

Meu coração te banha

E te guarda no baú da saudade.

Ênio Azevedo

Poesia, apenas poesia!