Sesmaria
O chão era de estrelas, aroeiras e ananais
O capim mesmo seco alimentava os animais
O canto era triste, o futuro imprevisível
Caminhava-se distante em busca do improvável
Bastava ter dinheiro para comprar de tudo
No sortido armazém do seu Raimundo Braz.
Na entrada do povoado casas de alvenaria
Alegres na janela se via seu Braz e Raimunda Luzia
Candeeiro a noite a sala iluminava
Lá fora vagalume no escuro vagueava
E de manhã raio de sol nas frestas reluzia, brilhava
Aroeira de casca grossa mamãe cozinhava
E chá mamãe para os filhos fazia
A todos da casa gentilmente oferecia
Uns dispensavam ao achar que ardia
Não tinha tempo ruim a gripe o chá bania.
Aroeira, cactos, jacarandá e braúna intempérie resistiam
Na casa de pau-a-pique meninos pelados corriam
Sofria-se de barriga d’água, mas ninguém reclamava
A vida era sofrida na estância onde morávamos
Mas com luta e muito estudo dificuldade ficou para traz
Deixei meu reino encantado, a pequena Sesmaria.
Coberta de aroeira, cedro, imbaúba e ananais.