Festa de São João
Faltava algo na tarde abocanhada pelo sol
Nos instantes inundados de voz
Momento encharcado de vultos
Impossível negar essa minha busca
Escondida em goles de vinho
Disfarçada de outros assuntos
Mas inquietante dentro do espírito
Onde estará meu doce olhar
Meu sol secreto, minha lua guardada.
Meu passeio de barco, jardim escondido.
Perola em meu bolso, prazer a sete chaves.
Que tantas já vi despir-se do vidro
Nessa selva de ossos e concreto
Sei que está também a me procurar
É meu segredo de cachos molhados.
Minha uva madura, banho de sereno
É ouro entre as pedras
Perto dele ninguém tem voz
Não existe outro cheiro
Nem de perto outra luz
Mas precisamos ser firmes
Não acender faróis
Nem despertas as hienas
Nessas horas o juízo é dono da razão
Tal qual minha boca e meu corpo.
Talvez aí esteja nosso futuro, pai de todas as coisas.
Quem sabe nossa velhice. Que esta então! venha de mãos dadas.