FLOR DO GRÃO PARÁ

Uma flor cresce

seguindo a tênue luz na ruína,

o parco orvalho verte

a lágrima do dia

e o concreto não desvanece

a flor que principia.

Uma a uma as pétalas

constituem artérias,

o sistema de flores

alimenta os edifícios

e das fachadas singelas

brotam-se sorrisos.

Erguem-se os moradores

na cidade destruída

que de arrasada em temores

em flores foi reerguida,

do aroma dos amores

bailam a dança proibida.

No cinema, nas festas, nos umbrais

teu nome em cartaz;

do trabalho, do quarto, do corrimão

teu nome na contramão;

na praça, no shopping, no Grão

teu nome sem direção

pra frente, pra trás, ao contrário,

de fora, de dentro, de lado

de cima, em volta, de baixo,

por sobre, por entre, do ventre,

no átrio, no pátio, no alpendre

no cálice, no caule, na corola.

É a vida no estigma da aurora

convertendo o que era escombro,

obscurecendo a luz do assombro

no verde rosa dos teus lábios,

no sangue que toca afiado espinho,

no verbo da ação dos indivíduos.

Tu és a flor, eu esta metrópole.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 21/03/2022
Código do texto: T7477942
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