Sem você

Tento me agarrar às memórias, mas apenas elas não são fortes o suficiente para sustentar nosso relacionamento. Vou aos poucos imaginando a casa sem você. Sem tuas roupas, teu perfume e teu cheiro que tanto amo. Sem a possibilidade de no meio da aula ou trabalho, levantar para te beijar. Sem as longas conversas sobre o mundo, sobre filhos e pais. Sem as longas noites maratonando uma série que já tentamos assistir antes. Sem fazer amor com aquela nossa paixão e nossa playlist sexy. Sem os xingamentos aleatórios que tu costuma dar para meu computador quando ele não funciona como tu queria, mas que viram piada assim que eu começo a rir. Sem os insights que tu me dá quando mais preciso; sem os banhos demorados juntos; sem as conchinhas; sem as coisas bobas que tu diz e me fazem rir; sem os beijos no nariz; sem tuas mãos que tanto amo beijar; sem teu toque, sem tua presença.

Mas também sem meus choros abafados por me sentir sozinha estando contigo. Sem me sentir culpada por ter te machucado de alguma forma; sem me sentir errada o tempo inteiro; sem me sentir invalidada; sem me sentir não vista ou não amada. Sem sentir meu coração se rasgando de dor dentro do peito depois de algo que tu disse ou fez. Sem me sentir rejeitada por vestir uma roupa bonita e não ter nenhuma reação da tua parte, sem sentir que faço parte do teu problema. Sem me sentir engolida por tua tristeza a ponto de achar que nunca consigo ser o motivo da tua alegria. Sem sentir que sou o único elo entre tu e e a autoestima que ainda te resta. Sem medo de colocar a roupa que quero; sem medo de falar a coisa errada; sem medo de demonstrar prazer enquanto como algo; sem medo de aceitar minhas imperfeições; sem medo de demonstrar empolgação pelas coisas que quero, por quem estou me tornando, pelas coisas novas que estou descobrindo. Sem músicas que representam tão bem o que sinto, que sofro sempre que as escuto. Sem falas ríspidas e secas, sem me sentir inútil, sem me sentir pequena, sem não poder ser EU.