A ver navios

Nas fontes nascem as águas, limpas, puras,

E serpenteiam, ora em fendas,

Ora em riachos, ora em cachoeiras,

As vezes nos mares,

Outras, das nuvens despencam.

Elas desconhecem os obstáculos,

Não discutem, nem esbravejam,

Simplesmente desviam,

Não olham para o passado,

Sabem o que desejam.

Assim, em mim, nasceu um amor,

Limpo, puro, cristalino, feito água,

No meu ser serpenteou,

Subitamente me inundou,

Preencheu-me, dominou-me.

A minha vida, se transformou,

Porém, sábio como as águas, eu não fui,

Para o passado dela eu olhei,

Julguei, discuti, esbravejei,

Dos obstáculos não desviei.

Mansamente ela se comportou,

E feito água, de mim se desviou,

E aos poucos foi me abandonando,

E em outro amor, embarcando,

E eu, a ver navios, fui ficando.

Samu Franco
Enviado por Samu Franco em 20/05/2022
Código do texto: T7520163
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