O POEMA EM BATALHA

Enquanto eu me declarava

no silêncio de noites em brasa

e ficava pálido de contradição,

tu me fugias a luta armada

escudo em cunho,

espada sem punho

e recitava minha revolução,

palavra por palavra,

como se ortografasse

com minha espinha

tudo que dizer pudesse.

Já sabias do fogo

e da centelha que te supunha,

Já sabias da lua

e da tua face no sorriso da água,

Já sabias da terra

e da cinza verde que te encerra,

Já sabias do ar

e da estrela que te anela,

Já sabias do mar

e do teu nome na procela,

Já sabias do pássaro

e do voo raso que te observa,

Já sabias da flor

e do teu aroma em sua entrega,

Já sabias do poeta

e de teu esplendor em seu poema

Procelas! Procelas!

Da amplidão do abstrato,

da força do mundo,

do hábito que cerca

o que me interessa?

Dos passos na pátria,

das penas nas asas,

dos cabelos na cabeça

o que me interessa?

Das pétalas no espaço,

de quietudes afogadas,

dos versos afetados

o que me interessa?

Importa-me o que me queima a pele

e derrete o ouvido, o que se expele

da profusão de astros que explodem.

Importa-me o calor do inverno

no atrito sólido da neve

que em vapores ácidos implodem.

Importa-me as pegadas nas cobertas

que deixam acordadas as plebes

e desnorteadas de nós se encolhem.

Importa-me o que corre na veia

e em corrente imprópria me escolhe,

me entope, me incendeia de jovem.

Importa-me o que não se importa

de me deixar no escuro, na beira

e me clareia de terceiras formas.

Importa-me o que me afoga

e sem brio conosco se crava

da água, do fundo, de mim.

Não existe desculpa para amar,

não se escreve para o amor,

a gente se larga na descoberta

se livra da praga da antimatéria

e se realiza de viver, de respirar,

de atravessar todo cobertor,

de se mostrar a carne aberta,

de machucar a suave pétala.

Não existe desculpa para benquerer,

não se versa o que nos estima,

simplesmente se ergue, destemida

e se batalha sem medo da ferida,

porque amar também é morrer,

é sofrer adiantada a despedida,

é debulhar a lágrima premida,

é perder em triunfo corolário!

Destarte, não há vocábulo

que eu não desate

nesse teu verso escroto

de paixonite aguda,

não passa de vocabulário,

de poesia vagabunda

que carece de arte,

da coisa profunda,

do toque maroto

no corpo e nas sílabas.

Com o amor da vitória,

o poema em batalha,

é a minha vida,

é tudo que tenho.

Diego Duarte dos Santos

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 08/06/2022
Código do texto: T7533783
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