Quem dera eu

Sexta-feira num fim de tarde quente, sentada no último banco do ônibus, percebo os comportamentos de toda a gente, uns expressam em seus olhares cansaço, outros euforia, uns tristeza e outros ainda, ansiedade olhando para o relógio no pulso a cada minuto. O que esperam toda essa gente?

Perguntei as horas a uma moça que estava sentada ao meu lado muito inquieta, ela suspirou cansada e respondeu: 17h15. Ousei iniciar um diálogo: as horas não passam, não é mesmo? E ela de imediato disse: não, não passam! E parece que quando mais preciso que os minutos corram, eles se vão bem lentamente, quase parando. O seu telefone tocou, o que impossibilitou a minha fala de volta a ela.

No telefone era seu amado que a indagava: que horas você chega? Que demora! Te espero há dias. Ela responde: Indo meu amor, estou indo e também estou morrendo de saudades.

O ônibus chegou na minha parada, me despedi dela e desci. E enquanto andava na rua ia pensando nesses dois amantes. Que bonita é a espera do amor quando se está indo em direção ao amado. Quantos corações ali dentro daquele ônibus lotado estavam iguais ao da moça? Na ânsia de encontrar o ser que se ama, de abraçar, sentir o cheiro, ter o colo e o amparo e ampara-lo também, esquecer por um fim de semana o cotidiano que esmaga. Temer a segunda-feira e ficar de novo longe de quem se ama.

Quem dera eu, contemplar a espera do meu amado durante toda a semana com a certeza de encontrá-lo na noite de uma sexta-feira. Despejar nele todo meu desejo guardado, ter a pressa de abraçá-lo e não soltá-lo por horas.

Quem dera eu, que também amo, esperar ter meu amado como válvula de escape desse cotidiano pesado.

Quem dera eu, esperar poder fazer do meu amado o combustível para suportar mais uma semana que logo logo iniciaria.

Ah, quem dera, ter uma doce espera.

Bianca Echily
Enviado por Bianca Echily em 13/08/2022
Código do texto: T7581144
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