verso vesúvio
verso vesúvio
(quando se descobre amando)
amar-te tem sido uma alegria apertada
o labirinto mental
afunilado ao infinito da escuridão
em um corredor hospitalar esquecido
com aroma tísico
amar-te é uma alegria apertada
uma escorregada
do pensamento que resiste à realidade de ruas asfaltadas
infiltradas por águas poluídas
que nunca passam
meu amor a ti é um nada
mas tem asas
as penas engomadas de Ícaro
enfrentando perigos
meu amor a ti é tão vívido
muito embora não vivido
senão por escapismos
meu amor a ti é um grito
teus escárnios
reencarnados
do desprezo a ti no pretérito
fincado na tua memória
para meu instante tão sério
e doentio de agora
penso aqui neste momento
tudo o que te disse neste confinamento
não pode ter sido eu, senão teu ser que me adentrou
dando outra forma para a razão
contornando outro sentido sobre o que é sensato
e me transborda
e que hoje se encontra nos limites
da minha lucidez e dos meus atos
não, não
a angústia que vivo não foi fruto da imaginação
foste tu quem me fizeste perder a noção
tu és nevoeiro de um céu que desconheço
uma difusa dimensão
mas eu bem sei do teu beijo
porque tem o toque e o sabor do desejo
eu te conheço
pois és a extensão que criei e sigo às cegas
em uma louca entrega
a este mistério que ora nos conecta
meu amor a ti é ilusão
caminhando na contramão
desta esquina de rostos tristes
meu amor a ti resiste
como um raio de sol no canto dos lábios
de todos estes seres que, pela rua, me acho
meu amor a ti é só saudade
das palavras não ditas
uma garganta aflita
por não te implorar
para que jamais desistisses de mim
meu amor é um sim
ao cinza permanente no semblante desta gente
que caminha desanimada mas caminha
meu amor a ti é vulcânico
vesúvio de olhares secos sem aroma
paralisados na cidade
lavas de cinza
que ardem na geleira
do amor civilizado
(Kátia Surreal)