Espelho da alma

 

Olhei por um momento do lado,

Olhei amedrontado,

Foi um passo, um traço, um frasco

De essência caido ao chão,

Um fraco momento daninho.

Foi um olhar tão sofrido,

E um olhar tão mesquinho.

 

Foi um querer desprovido de esperteza,

Foi um querer inocente e contente,

Foi um desejo de um pobre coração

Que não aprendeu a olhar no espelho,

Não aprendeu a se amar por inteiro,

A dar e receber sem pedir perdão.

 

Num ponto, num único ponto doído,

Desarranjei o meu ser sem sentido,

Não olhei pra trás, fui de encontro ao destino,

Acelerando os passos para não pensar,

Para sentir o aroma cítrico da tua pele,

Sentir o cheiro de limão me madrugando.

 

Correndo para o teu olhar foi o meu olhar,

Teu encanto, teu feitiço e desse modo,

Não tive tempo de ver o outro lado do rio;

Não tive tempo de desmanchar o ato da mão,

O sentido que o coração deu aos gestos,

O sofrego beijo dado entre suspiros.

 

Havia um pranto nunca soluçado,

E uma lágrima nunca derramada,

Contida, guardada precisando desabar.

Cada vez que partias, cada vez que voltavas

Um sol banhava meus olhos,

Um mistério cobria os teus.

Uma noite de lua inacabada,

Uma lua cheia no corpo meu.

Um espasmo entre gritos.

 

Eis um coração ferido duplamente,

Deixar-se amar assim covardemente

Ou amar assim com todo ardor

Se perdendo lentamente?