A outra que vive em mim

Dentro de mim mora uma fêmea

Ousada, despudorada,

Sem medida para nada,

Oculta, lá dentro de mim.

Quando se pega em liberdade,

Extrapola os limites

Da minha razão e juízo,

Tamanha a voracidade

Com que se entrega ao prazer.

Eu a mantenho em cadeias,

Presa, acorrentada,

Evitando sua evasão.

Mas horas há em que escapa,

Que minha vigilância solapa

E se entrega com sofreguidão

Ao amor, de modo tão louco,

Tão sedento e estonteante,

Que me rendo à sedução

De meu lado extravagante

E me entrego, leviana,

Aos apelos da paixão.

Shirley Carreira
Enviado por Shirley Carreira em 26/11/2005
Código do texto: T76447
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