Cidade de Gelo

Em uma cidade de gelo, o verão trouxe o sol escaldante

Em desespero, ouvia-se o grito dos habitantes,

As lamúrias, os desejos, todos os perfeitos instantes;

As memórias, os beijos, os sonhos errantes,

O porvir, o desespero, o conforto dos amantes,

O tempo e o medo, a angústia ambulante.

Evaporou-se até mesmo a política, a metafísica, a verdade absoluta;

Restou apenas a vida, que, apesar da morte,

Reluta.

Surgiu um oceano inquieto, sem ego — apenas ele mesmo

E toda a sua profusão de espécies desconhecidas

Em um tempo em que a vida é apenas vivida

E a poesia existe sem ser percebida.

E então eu me volto, um ser em seria,

Para a minha cidade, aquela que em mim habita,

E procuro, nas avenidas, a colisão sentida

No momento em que o verão

Esquentou as feridas.