Uma poesia para Dany
Dispo-me dos meus medos e reticências,
do temor das penitências
e do clamor dos que apregoam o não amor.
Entrego-me para sempre
ao cuidado dos teus cuidados
e ao abraço dos teus abraços,
apertados, quentes, acolhedores.
Ao teu colo, ao teu solo…
Às medidas desmedidas, plenas,
deste amor que nos preenche o ser,
que por direito nos pertence,
e a quem também pertencemos
mesmo antes de qualquer de nós saber.
Que minhas grossas raízes penetrem,
adentrem em tua terra molhada,
umedecida pelos beijos do orvalho,
enquanto tua mão esquerda me recebe,
e tua destra me envolve com terna afeição.
Entrego-me ao mosto
dos frutos gêmeos de tua macieira,
os quais com diligência apalpo.
Entrego-te o mosto do meu próprio fruto,
para que te banqueteies e te fartes
com seu néctar adocicado.
Deleito-me nos carinhos de tuas carícias
e mergulho na profundidade
de teu oceano de fertilidade abissal.
Adentro no córrego abundante
que entre tuas pernas corre
e então mergulho, encharco-me
de tuas muitas águas.
Amo o teu lado dia,
porém agrado-me de igual maneira
das tuas noites, pois nelas quase sempre
brilha uma lua cheia
e cintilam as miríades de estrelas.
E nas poucas vezes
em que os luminares te faltam
e negra se torna a noite, ilumino-te
com a chama ardente do meu amor.
Entrego-me à arte das tuas artes,
à parte que te cabe das minhas partes,
à face não oculta de tuas faces,
ao mel que na labuta granjeastes,
ao soro que de teu amor em minhas veias corre
e me renova a vida para a vida,
e o fogo para a forja...
(Às portas de completar três anos de sua publicação original, decidi republicar esse texto pelo qual tenho enorme carinho.)