Poema do afazer
Há dias que me ponho a coser minhas tristezas
Chorando o imundo de minh’alma.
Numa canção fúnebre baila o verde das árvores.
Ouve-se entre uma multidão de lírios os soluços de um anjo.
“Por um amor sem causa ou por causa de um amor”.
Doe coser suas próprias tristezas.
Qual ferroadas de abelha a agulha me vara os dedos
Manchando a sangue o tecido alvo.
Ponho-me a estender sobre meu leito
Minha cândida brancura e adormeço para
Coser no dia seguinte apenas alegria, a felicidade efêmera,
Retalhos coloridos puídos pelo tempo.
Poetizo como um homem a caiar sua casa
Sou poeta cosedor de palavras
E dentro do meu poema habito.
Belo Horizonte, 26 de junho de 2006