ÍNTIMA

Fiz amizade com a dor -

Agora temos a mesma sintonia.

Ela chega nas horas calmas do dia,

Puxa uma cadeira a minha frente

E ficamos a olhos fixos

No horizonte da poesia.

Sem querer ela me incomoda

Com seu modo de buscar lembranças.

Ri quando vê semelhanças

Entre o eu adulto e o eu criança.

Estamos íntimos no doer,

Feito o martelo e o prego

Dentro da mesma batida.

Enquanto estamos unidos

Não há sossego, não há abrigo,

Somente um sopro de vida.

A noite, tal qual um cão,

Vigiando porta e soleira,

Ela se esgueira

Entre o pensamento e o sono.

Enlaça-me feito cobertor macio

Por dentro a alma, fio a fio

Tecendo a morte sem dono.

Como não posso deixa-la ir

Aprendo de modo simples

A amar o incorrigível -

A olhar pra ela e sorrir

Dos termos do impossível.

( Assim passam-se horas

A doer o coração que implora

Descanso na mente sensível )

Vou de abandono a abandono

Buscando alento

E me perco no deserto a cada passo.

Pra dor não importa o sofrimento,

Se é neve ou aço,

A finalidade é a mesma e mata

Com a simplicidade de uma falta.

( As vezes terna, com suavidade...)

Dói de saber ser eterna;

Dói de saber ser saudade.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 09/07/2023
Reeditado em 09/07/2023
Código do texto: T7833049
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