Falar de amor

Não sei falar de amor sem fazer silêncio,

Silêncio a calar suspiros, remexer entulhos,

Iluminar terrenos, vasculhar funduras...

O amor vai sendo achado em mim

Nas calhas entupidas, nos assoalhos ríspidos,

E nos cantinhos cheios de farelo.

Vai alimentando formigas e vespas,

Escoando nos buracos e desarmando armadilhas,

Subalterno, manso, quieto.

O amor vai sumindo enquanto pode,

Fugindo da luz do dia, entre as rachaduras,

Escondido, pois se descoberto, morre.