Essencialidade

Excluídas as exigências convencionais,

elididas as diferenças sociais,

suprimidas as indiferenças raciais

e vencidas as filosofias dos intelectuais,

os humanos somos animais cotidianamente

carentes apenas de contato, de olfato, de tato,

e não de sapatos, aparatos e contratos;

carentes de calor, de amor, de despudor,

e não de avião, promoção e título de doutor;

carentes de carícia, de malícia, de preguiça,

e não de influência, fluência e contas na Suiça;

carentes de paixão, de emoção, de tentação,

e não de guerra, terras e grades de proteção;

carentes de relacionamento, de cumprimento, de sentimento,

e não de isolamento, armamento e muros de confinamento,

carentes de beijo, de desejo, de gestos benfasejos,

e não de guerrilha, quadrilha e ilhas de desterro;

carentes de paz, de cantigas, de poesia,

e não de rolex, duplex, veleiros carcomidos pela maresia;

e porque ninguém é de ferro nem de água

nós somos carecedores desmedidos

de dengo, chamego, cafuné e sexo;

mas para tal, é urgente que se faça uma claúsula

que declare a permissividade de viver despido;

chega de relógios, gravata, anágua, saia, terno.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 20/12/2007
Código do texto: T786119