Você e Eu...

...

A dor de não encontrar,

tanta terra e tanto mar,

nem abraço nem porto

para meus ais. Onde o cais?

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Tal Fênix degenerada, das cinzas rediviva,

brindo o encontro. Doído, doido, rindo feliz,

embora sentido, alarmado que Ícaro

em queda brusca seja chamas, eu cinzas.

(Morri!)

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Que sonhos sepultados não germinariam

sementes de intenso amor, profanando

a tumba, rasgando a terra, fecundando

a seara árida de então, brotando verde?

Que pergunta Ícaro faz a Fênix, eu,

que te alerto para o sol que rebrilha,

mas te queimará a cera das asas e

a fuga à liberdade te escapará?

Um sonho que faz de fato voar um

Ícaro seguro, alado em aura iluminada.

é aquele que me segredaste, insinuando

que me podias amar e fez de mim ave

rediviva, esfolada ainda, certo, mas

recriada em vida, por te esperar.

Respondo para tuas dúvidas enterrares

e mais intensamente sonhar. Que não faço

eu outra coisa na vida, agora, que esperar

por ti, por teu chamado, por teu beijo,

por te encontrar e, enfim, te amar vivo.

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Já nos dissemos, não lembras

para me provocar a alma, que

não há invenção pior que essa

do pecado, produzida para nos

dominar a paixão que revolta

as brumas, espanta amarguras

reluz a carne transformada em

frêmitos sem freios, alucina

e nos devolve humanas pessoas

umas às outras. Eu dentro de

ti, tu em mim para sermos um

...

Ainda assim, se for, pequemos!

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Se ainda pensas, alguém de nós não enlouqueceu de vez.

Os bem-me-queres transformados e os girassóis por fim

reencontrados nos devolveram a paz. E nós a nós mesmos,

denunciando um outro momento, esse já perene, parado,

o tempo deformado pela curva do espaço, agora estreito

encurtado, não mais distâncias, não mais vacilações,

a ânsia apaziguada por certeza, a espera infrenética

embora a viração da doce brisa, carregando as últimas

nuvens, despejasse em nós chuva fina, seguimos

abraçados, passos lentos, aureolados de matiz carmim,

sim, por certo, sem mais duvidar, eu em ti, tu em mim.

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O desejo é um sonho já quase real

Transmudado da não matéria ao plano do querer,

Em sendo a palavra que o ato encontra.

Nada mais natural, que a vontade carnal

de seres do reino nosso, ancestral, perene,

atual, de um modo manso, animal até tímido,

sensual que chega ao sexo por acordes

de prazer. Os corpos explicando pulsares,

as peles incandescidas, neurônios dispersos

enlouquecidos à caça da tradução dos gestos

de mãos, de lábios e línguas quentes, doces

e umedecidas suavemente, por lânguidos

tocares de uma na outra, e chegando até

aos céus das bocas, em carícias

exploratórias de recônditos adivinháveis

queridos, amoráveis, inebriantes fluidos

quentes, gososos, gostosos, de nossos

íntimos e sussurrados lugares mais guardados

sejam então explorados mansamente, tênues

movimentos a encontrar fendas fremindo úmidas

ansiadas de quereres, por desejar sentir prazer

Sonhar assim nada me custa, e muito me dá paz

para ao teu lado, sem mesmo perceber, adormecer

as pernas trocadas, seios a acolher a face.

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Eu sinto que teu perfume pode inebriar.

Com certeza, não iremos à missa das sete.

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Eu não penso mais em ti.

É que tua presença inebria

irradia de tal modo um brilho

que esfuzia a vista e, demente,

creio, perco-me nos teus labirintos macios

no teu colo perfumado, nos teus braços,

enlevado que, não mais penso, apenas sinto.

Muito!

...