Águas de Sepetiba

O silêncio da praia de Nova Sepetiba não é de embarcação, mas de pensadores convencidos vivendo sob o peso da responsabilidade, os quais enfileirados e quietos vão bem longe da escuridão, porque entendem e praticam a doce voz do conhecimento emanada.

Piano emudecido, teclado de madrepérola quebrado, carrinhos de pedras pra lá e pra cá, num vai-e-vem sem fim, colhendo frutos do jamelão caídos no solo. Dócil a face dos que olham para o poeta e para o prédio ainda em ruinas, de onde surgem sonho, alegria de ensinar, educar e levar cultura na mesma direção. Tudo fluiu, menos sua alma que se perdeu e caiu no vazio jamais sonhado.

O poeta se enobrece com a corriqueira gratidão – a emoção é o resultado da contemplação das tardes ensolaradas, porém frias. Era como se fosse o beijo gostoso e cheio de esperança de quem vai da realidade além – pobre poeta que se achou artista e deu no que deu, virou faísca e escafedeu-se do espaço ainda desconhecido do grande público.

Garimpou conchas sonoras no fundo do mar, conheceu jovens praianas e alegres, que na Biblioteca mostravam seus livros aos amigos dos quais pareciam gostar – ausência crispada - esquecê-los jamais, mesmo com as decepções que a vida nos prega, agora só resta o murmúrio do mar misturado ao vento calmo e silente, de embarcações atracadas, num doce e perfeito lamento das águas.