Escravizado

A tarde veio o vento e me levou feito folhas secas, perdi as forças e não resisti, depois me deixou numa espécie de campo de concentração, lugar soturno e ádveno, ali só se ouvia gemidos dos que estavam sob as chibatas.

No centro de um matagal por muito tempo eu nada encontrava, no meu entorno só desespero. Eu buscava uma saída, mas os brancos me sufocavam, amarravam meus braços e minhas pernas, vendavam meus olhos; no entanto, tentando salvar minha vida lutei, não venci, mas superei a batalha.

Senhores de engenhos, entre outros se revoltaram e eu fui golpeado, aos poucos me deixaram irritado e o mel daquelas árvores cobriu meu corpo, cujas folhas colaram em mim para proteger minha alma. Mudaram minha vida, inerte de longe e de olhos vendados, eu me deslumbrava em oração.

Assim vi esperança, uma luz no fim do túnel, tentei seguir, mas meus pés que deveriam ser o contrário me impediam, meu mundo caiu, vi tudo de ponta a cabeça e na Cidade Alta onde eu não podia ir me vi... O lugar era cipreste, fui preso e torturado pelos loucos senhores.

Vi coisa que a mente jamais conseguiria ver, senti o frio que um homem jamais poderia sentir. Aprisionaram-me com cordas e correntes no tronco, minha alma ainda sente, passados mais de quinhentos anos ninguém me ouve, ninguém me escuta para condecorar dignamente meu povo, sofro porque sofro, nada fiz para continuar esse martírio, apenas construí uma nação. Sou escravizado dos senhores, porém longe dos mocambos vou vivendo, lutando e fugindo da dor, até quando não sei.