O amor.

Se o amor tivesse entrado na minha sala de aula, eu o teria reconhecido à primeira vista; o amor usava um… fone branco; eu o teria reconhecido a primeira vista, o amor usava um… moletom preto. O amor tocava violão e conhecia todas as minhas músicas favoritas dos Beatles; amor não tem medo de andar de skate comigo. Mas quando o amor finalmente apareceu, ele tinha um corte de cabelo esquisito, ele usava as mesmas roupas todos os dias da semana, o amor odiava andar de skate, o amor não sabia nada sobre Beatles; ao invés, toda vez que eu tentava beijar o amor, nossos dentes se batiam, o amor se tornou a razão pela qual mentia pros meus pais “eu estou indo para… o shopping com meus amigos”. O amor ficou longe por anos, e quando o amor finalmente reapareceu, eu mal o reconheci; o amor cheirava diferente agora, tinha olhos mais escuros, costas mais largas, o amor tinha um rosto que eu não reconhecia, novas marcas de nascença, uma voz mais grossa, agora tinha novos padrões de sono, novos livros favoritos, o amor tinha músicas que o lembrava de outra pessoa, músicas que o amor não gostava de ouvir, e eu também. Mas encontramos um banco no parque que nos cabia perfeitamente, encontramos piadas que nos faziam rir, e agora o amor me fazia alguns pratos de comida japonesa, mas que eu provavelmente vou acabar com a maioria deles. O amor ficava ótimo de samba-canção, mas ainda gosta de usar seu moletom favorito; o amor era um guia terrível mas um ótimo navegador; o amor sabe para onde está indo, só pode levar duas horas a mais do que ele planejou. O amor é mais confuso agora, não tão simples; o amor usa a palavra “peitos” na frente dos meus pais; o amor mastiga muito alto; o amor deixa a tampa da pasta de tente aberta; o amor usa carinhas nas mensagens de texto; e para terminar, o amor “caga”. Mas, o amor também chora e o amor vai te dizer “você é lindo” de novo e de novo, “você é lindo”, quando acaba de acordar, “você é lindo”, acabou de chorar, “você é lindo”, quando não quer ouvir, “você é lindo”, quando não acredita, “você é lindo”, quando ninguém mais te falar, “você é lindo”, o amor ainda acha… “você é lindo”; mas o amor não é perfeito, e as vezes vai esquecer quando você mais precisa ouvir “você é lindo”. O amor não é quem você estava esperando; amor não é o que você pode prever; talvez o amor esteja em Nova York já dormindo, você está na Califórnia, Índia, Austrália bem acordado, talvez o amor esteja sempre no fuso horário errado; talvez o amor não esteja pronto para você, e talvez você não esteja pronto para o amor; talvez o amor não seja do tipo que se casa; talvez da próxima vez que você veja o amor seja vinte anos após o término; amor parece mais velho agora, mas continua lindo como você se lembra; talvez o amor esteja lá por apenas um mês; talvez o amor esteja lá para cada fogo de artifício, cada festa de aniversário, cada visita ao hospital; talvez o amor fique; talvez o amor não possa…; talvez o amor não devesse. O amor chega exatamente quando o amor deveria, e o amor vai embora exatamente quando o amor deve; quando o amor chegar, diga: “bem-vindo, fique a vontade !”. Se o amor for embora, peça para que ele deixe a porta aberta para outros amores, desligue a música, ouça o silêncio e sussurre: “obrigado pela visita”.

- Ash Magon (25/10/2023)