Quando o amor se apaga

Quando chegamos ao mundo, trazemos conosco uma bagagem de outras encarnações ou outras vidas como preferir. Não temos noção do que nos aguarda ou até onde vamos chegar e como vamos chegar. Que tipo de sofrimento temos que passar ou que dor vamos sentir.

Nem sabemos se vamos envelhecer e mesmo que envelheçamos, se vamos nos reconhecer e ter um fim bom ou ruim. Tudo é mero merecimento, resultado e o acúmulo de outras vidas. O que trouxemos na bagagem? Daí, vem o questionamento sobre o que você vai levar quando partir desta vida? Parece redundante, mas são questões que determinam o que você leva e o que você traz.

A trajetória do ser humano na terra, é uma batalha constante contra si mesmo. Desde seu nascimento até a sua morte, o homem trava lutas insanas. A gana pelo poder, a vaidade excessiva em busca do dinheiro, de posição social, as paixões por mulheres e objetos de valor, os vícios e orgulho, a ausência de amor e de Deus o transforma numa horrível criatura.

Quando nasce, traz a esperança, atinge a juventude, renova a esperança e avança, mas, quando chega a hora de partir, leva sua consciência.

Nessa hora, muitos nem consciência têm mais. Perde-se a memória e tudo o que se viveu se apaga e nem sabe mais quem se é, mas sua alma já registrou tudo e sua história foi escrita. Agora está sob os cuidados de pessoas que podem ou não ser gratas e lhe tratar bem até à passagem para outra dimensão.

O poeta, em sua lucidez, transporta para o papel, toda sua dor e melancolia. Emoções vividas e sentidas que perpassam sua alma como uma flecha certeira. Ah, quem dera pudesse apagar todo esse sentimento, toda essa dor, para que minha alma tivesse um alívio ou um frescor de paz! Quem dera pudesse perder a memória no instante em que a solidão se aproxime de mim! Quem dera não houvesse lembranças e nem saudades, não haveria gritos, nem lamentações e motivos para reviver!

Quando se perde o domínio de si não se pode mais honrar a palavra; quando não se tem mais razão para seguir em frente, quando você se olha no espelho e vê que não passa de um trapo velho, percebe que o fim é inevitável, um filme vem à sua mente, em segundos, retratando tudo aquilo que se viveu. Remorsos ou arrependimentos, não mudam o passado e nem o presente, e ainda lhe deixam refém do futuro.

Quando a amada se vai, mas o amor permanece, o sofrimento é impetuoso. É como se caísse num calabouço e nunca mais visse a luz do sol. Promessas de amor feitas e não cumpridas, juramentos quebrados por falsas ilusões, quando não se pode mais tomar decisões, vem a reflexão de que esta a um passo do paraíso*.

O poeta pecador roga aos deuses magos que ressurjam das cinzas e dos fundos dos mares que tenham piedade dos seus e que transforme em pedra o amor que não vingou e nem honrou os seus mandamentos, escandalizando seus ensinamentos apagando seus sentidos para que não sinta mais essa dor que invade sua alma queimando seu peito em chamas; que não haja mais tempo e nem distância para que o amor não se canse e nem tenha que partir; assim não haverá mais despedidas e nem lágrimas a derramar.

Que você tenha o privilégio de se lembrar de seu primeiro e único amor, que lhe fez viajante, navegante e deslumbrante. Que lhe ensinou a dar e a receber; a partir e a regressar, assim estarei sempre a lhe esperar.

* Paraiso seria a vida após a morte