O AMOR ACABA
Eles não se falam muito agora, estão distantes embora convivam lado a lado. Pois, quem disse que a companhia física supera as conexões da alma? Fica o silêncio constrangedor e as palavras secas e vazias de uma relação que chegou ao fim.
Não se falam porque guardam com sete chaves os segredos mais obscuros, e qualquer palavra por mais casual que seja soa íntima demais entre dois estranhos irreconhecíveis perante o outro.
A saudade já não preenche o tempo em que não estão juntos.
Se divorciaram em silêncio e agora nenhum dos dois sabem pra onde ir. Os caminhos que outrora se afunilaram agora se alargam e convidam ambos a seguirem em direções opostas
O toque não arrepia a pele e o corpo rejeita as carícias de um amor finado.
Sobrevivem as lembranças e os longos anos de uma histórias de amor. Dias inesquecíveis nos quais o amor latejava no peito.
Hoje os olhos não brilham, o corpo não vibra e a alma se refugia nas paixões irreais.
O tempo consumiu o fogo e as cinzas exalam um odor fétido de um amor que já ardeu.
Os poetas, jovens e amadores costumam anunciar em festa a chegada do amor mas não brindam a beleza rara que sobra na gratidão de quem amou e foi amado.
Pois o amor acaba, ele se extingue no passar dos dias, na rotina exaustiva das segundas-feiras e no tédio das compras do mês.
O amor não cabe na pequenez e então se vai.
O amor acaba quando o corpo não seduz e a alma não se regala.
Quando o amor acaba as noites são de saudosa agonia do corpo que ferve mas não se entrega.
O amor acaba e deve ser respeitado e aplaudido enquanto se retira de cena.
Deixar o amor viver entre as lembranças borradas do passado e se aprumar para o novo, aceitando o convite de se entregar mais uma vez a qualquer momento.
Pois, a vida é pequena demais para não morrer de amor de quando em quando.