Carta ao poeta

Devolva o meu coração, poeta,

Liberta-o dos teus versos, da magia,

Que em cadeias o aprisionaram, um dia.

Liberta-o da paixão desenfreada,

Da sede incontrolável da tua presença,

Da dor imensurável dessa tua ausência.

Devolva o meu coração, poeta,

Para que meu corpo pare de buscar-te

Nas incontáveis noites de solidão,

Nas infinitas horas em que o desejo

me consome e que com o nada me defronto,

pois busco ao redor e não te encontro.

Liberta-me, poeta, desse amor profundo,

Vasto, inexpugnável, como o próprio mundo,

Ignoto, como o meu sonho mais distante:

Merecer o teu amor por um instante.

Se não me podes amar; se é impossível

Corresponder ao querer de quem te quer tanto,

Seca minhas lágrimas, cessa o meu pranto.

Quando, assim, duramente, me disseres não,

Devolva-me, poeta, o meu coração.

Shirley Carreira
Enviado por Shirley Carreira em 11/12/2005
Reeditado em 11/12/2005
Código do texto: T84263
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