Não “nós”, mas "eu" e “tu”

É mais aquilo que nos une

do que o que nos separa.

Um rio, cidades, gente...

Tudo o que se transpõe entre nós,

e se sobrepõe

ao que não mostramos sentir.

E dizes a ti mesmo que não...

E continuas a deixar que o rio,

a cidade ou a pessoa

separem algo que, na verdade,

já não existe, senão em mim,

em ti?!

E sobrevôo o rio, as cidades,

esqueço a gente e vou até ti,

sem nunca te alcançar.

A muralha de papel torna-se aço

e passo por ti sem conseguir,

alguma vez,

olhar para dentro do abrigo

que esconde as fraquezas

e as tristezas do que já não existe,

senão em mim ou, talvez, em ti.

A partir daí, sigo em frente,

tropeçando nas nuvens, no sol

e tento encontrar o caminho

para voltar ao meu próprio abrigo,

longe de tudo o que, contigo, conheci.

E vivi mais um dia no passado,

nas lembranças e memórias

já doentes de cansaço.

Mais uma vez, tentei esquecer

a muralha de papel que se torna aço

quando atravesso o rio,

as cidades e pessoas

e dou um passo até ti.

11 de Agosto de 2003