Casinha, casebre, casarão

Eu tinha uma casinha branca
Sim, casinha, talvez casebre,
Posta no sopé da montanha,
Melhor, num buraco, entre montes.

Eu morava nela, gostava dela,
Era onde eu me escondia, vivia,
Para mim era bom, era minha,
Ninguém me tiraria dela.

Não tinha noção de quem eu era,
Ou sabia e não importava,
Levava a vida, minha vida,
Como queria, como podia.

Como rato de livraria, não sei,
Eremita, bicho de buraco, talvez,
Urso hibernando, pode ser,
Era o que menos importava.

Aí você apareceu e viu tudo do avesso,
Viu casinha, achou casebre, casa de sapé,
Não era sopé, nem montanha,
Era um buraco, entre montes.

A casinha que eu queria branca,
Ganhou tons sobre tons, cores sobre cores,
O chão de pedra, barro batido,
Viu tapetes, almofadas sobre piso.

Você viu casinha, sonhou casarão
via delícias e eu paisagem,
Eu via pedras, você jardins,
Eu via sombras, você o sol.

Quando me dei conta, se tanto,
De tantos contos, que contou,
Eu estava no meio dos seus sonhos,
Sem saber se eram meus ou seus os sonhos.