Los Bacans V

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Se a pergunta fosse: O que és, poesia?

"...Serás deus ou deusa,

que sexo terás?

Mostra teu dedo, tua língua,

tua face; deus dos sem deuses..."

(Chico César)

Desculpe, Dionísio, mas não me interessa,

ah, não!, não me interessa a poesia triste;

aquela que apenas sangra, pedra que arremessa

e não traz nenhum alento ao que existe.

Não, Dionísio, não! A poesia pode ser leve,

pode ser etérea, trigueira, ter docilidade,

pode ser dolorida e feliz, comprida ou breve

e pode vir com lamentos, querência de saudade,

pode até mesmo ser aquela faca que fura

ou a seta no alvo, a onda a derrubar areias,

pode ser aquele castelo caído, a palavra dura,

tua bailarina ou a derrama do sangue das veias,

mas também pode, Dionísio, meu amor,

ser suave, sensual, trazer ceninhas de gibi,

ser boba, água com açúcar, rimar dor com fervor,

ser passarinho, levinha, asinha de bem-te-vi;

não precisa ser só profunda, teatro pra ninguém,

não precisa, o tempo todo, arrancar tormentos,

ela pode ter aquele jeitinho que a gente tem;

de ser pele, sexo, chão, parede e pavimento,

ela pode trazer onda, vento, marolinha, perfume,

pode ser o que quiser, Dionísio, amado meu,

pode ser chama, fogo, serpentear, trazer lume;

ela pode até ser quem sou, porque ela, sou eu.

Sampa, 03.03.2008

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