AS DOZE ESTAÇÕES DO AMOR

Em janeiro dou o passo acertado: começo, ela termina depois;

Subo e desço e dobro e esterço e ela ri, tão feliz,

Tão gostosa, bonita, menina como noiva enfeitada de arroz...

Em fevereiro escrevo um samba-enrêdo e ela se põe de tanga;

Aplaudo, deliro, extravaso, ela ginga, eu tiro a casca,

Ela beija, ela come o caroço de manga...

Em março transbordo, sou água de banho, sou peixes, esponja;

Suave esfrego, não nego, ela geme, ela pede, tem sobra,

Se deita na relva, se muta em sereia, ninfa em sonhos e sombra...

Em abril quem se abre sou eu, melancia madura ela pede e me morde;

Rio, riacho, regato, lagoa de asfalto, ela é mel toda dentro,

Solto o som, movimento, sinfonia corusca e me chama de Lord...

Em maio em chuva me caio e rego e cardume trafego só por você;

Ela sai de florista, uma flor, me conquista, deixa sempre à vista

Um seio, que pista percorro, socorro, eu morro só de te ver...

Em junho explodo no alto, rojão, buscapé, só dela sou, linda mulher;

Pipoca na boca um desejo passoca, ela diz, diz que gosta de mim,

Pamonha, curau, amar não faz mal, como-a toda só com colher...

Em julho é descanso pra quem só trabalha, pra quem vai pescar;

Desmancho a tenda, ela vem só de renda, miúda, silvestre,

Tão linda, agreste, me pesca, me busca, só quer namorar...

Em agosto dá gosto do vento que vem e levanta a saia do meu bem;

Suspiro, me finjo de quem nada vê, ela dá um sorriso, diz, só pra você,

Me domo, em calma só um segundo, e penso na vida, e num neném...

Em setembro o aroma que muda, da vida, transmuta-se em pólen, luz;

Em pés de orvalho se lança ao atalho do amor e paixão,

A levo nos braços e a trago ao peito, perfeito o abraço seduz...

Em outubro me rubro de vinho e carpaccio e a amo sob raios de uvas;

Os olhos da água deslizam sedosos e ela em fogo me estende a mão,

Um véu de neblina, nos cobre, rolamos, felizes, na cama da chuva...

Em novembro um tenro filete de tempo escapa e vem se deitar;

Não há mais passado, nem grãos separados em mil ampulhetas,

Tão bela e completa se abre em mil vértebras e vem me amar...

Em dezembro as cortinas se abrem e criam-se tardes auroreais;

Felizes, juntinhos, seguimos caminhos que juntos fizemos,

O agora, o pra sempre, a eternidade já não existe, nunca mais.