Letras no seu (meu) corpo

Em homenagem a ela e, aproveitando, a Chico Buarque de Holanda

É lindo o seu belo e majestoso corpo

é possível escrever em sua pele

o nome da gente e dos que estão por vir

É bom apagar a narrativa somente no banho

esfregando as letras que saem em doces suspiros

Letras que não deveriam sair

Desejo é que elas finquem moradia no corpo, tal como as cicatrizes e as tatuagens.

Somente a poesia pode revelar as curvas das avenidas que esconde

Lembram as montanhas de Diamantina

O colorido lá longe do pôr do sol

A lua de Salvador

O mar espumado de São Luiz

A areia fina de Cabo Frio

O fogo eterno que queima a terra no sertão

Em sua pele descanso minha pena

É inevitável o arrepio que causa minha escrita fraca

Ela me abate e as letras vivas como as veias se movimentam.

O corpo se vira para dar passagem à tinta fresca,

ao carinho divino e a compaixão da reciprocidade.

Remexendo o corpo vai dando lugar a novas frases e contundentes esculturas,

novas e novas metáforas entram pelos poros.

Vejo os detalhes da vida e no retirar das letras com água ainda morna,

no banho cheio de espumas, a vida não se esvai.

De certa forma marquei sua pele, o espírito sentiu e o coração também.

Minha pena secou e deixou para sempre a saudade no vazio inacabado de minha alma.