Alguém como ele

... ele cheira a mato, terra

ele tem gosto de chuva

a boca que na minha descerra

ele me cabe como luva...

... ele me ensina outras passagens

quer que eu seja dele e me mostra o jeito

me faz levitar em muitas viagens

e suga em língua, palavras e lábios, o meu peito.

Ele me mostra como dançar o fado;

não com os pés, mas no olho a olho, suavemente,

deixa que eu mostre aos outros um devasso lado

sabendo que sou dele, de outra forma, docemente.

Ele desvenda em mim a meiguice

mesmo quando eu me visto de puta,

ele me toma em risos e com a brejeirice

dos homens de comando que ganham a luta

e deixa que eu me espalhe e me quer assim,

aos olhos alheios, como a vil putana,

porque ele enxergou ao longe, através de mim,

e foi essa que ele destinou à sua cama

ele me faz loas e canta devassidões,

me mostra o falo intumescido e enorme,

me tomba em desvarios e tantos tesões,

me deixa arriada de sexo e fome;

ele me mostrou seu lado conquistador

mas que não se subjuga a qualquer mulher

deu sua palavra de fibra e lutador

e deixou-me livre a fazer o que quiser;

e eu... eu me entreguei como à muito me recusava,

como quem desconfia, mas quer acreditar,

estou aos seus ombros fortes como a aljava

dando-me todas as chances de voar...

Sampa, 2008

http://versosprofanos.blogspot.com/