Aboiando estrelas

À Quitéria Maria

I

No sertão por aqui tão esquecido,

Rogo a Deus por apenas um pedido,

Que me faça vencer minhas paixões.

Pois mulher é um diabo a vestir saias,

É beleza que repousa sobre areias,

É a maior e mais cruel das tentações.

II

Viver não é só céus e carinhos ,

Beijo cardos à beira do caminho,

Espinhos que me são desilusões.

E enamorado num pleno furacão

Um desejo lacerou meu coração,

A maior e mais cruel das ilusões.

III

Com um copo pousado sobre a mesa,

Entre o corpo e a luz da singeleza,

Vivi luta de santo com dragão.

Ao sorver seu olhar por um instante,

Ao sentir o odor de seu encanto,

Vivi luta de santo com dragão.

IV

Num sorriso um bosque incendiado,

Num olhar mil desejos represados,

Um ardor que margeia o coração.

Cavalgando sobre o lombo das estrelas,

Contemplei sua dança e a beleza,

Ao luar que me traz desejos vãos.

V

Num calor que suspira muitos ais,

Seu andar é o feitiço mais mordaz,

Ao luar que me traz desejos vãos.

Num luar de rasgar o sonho e a sina,

No luar a banhar a moça linda,

No luar que me traz a tentação.

VI

E perdido na luz de seu olhar,

Atravessei meio mundo a cavalgar,

Vivi luta de santo com dragão.

Beijei sua flor sua singeleza,

Repousei no seu ventre a beleza,

Do luar que me traz desejos vãos.

VII

Que desnuda a encontre ao luar,

Cavalgando ao sabor do seu vagar,

E a vista com o manto da paixão.

Que a toque com as mãos da veleidade,

Com o calor que me traz tanta saudade,

E a ferroe com a marca da paixão.

VIII

E ainda que padeça a minha alma,

Pelo doce lampejo incendiada,

Do luar que me acalenta o coração.

No meu sonho a lida mais ousada,

Que lacera e corrói a minha alma,

É tomá-la com o encanto da canção.

IX

Seu sabor é ternura e claridade,

É imagem que transcende a paisagem,

Leite e mel que adoçam o meu pão.

Ao ouvir a voz do seu silêncio,

Ao sentir o fragor do sentimento,

Miro raios na aurora da canção.

X

Seu sorriso um bosque incendiado,

Seu olhar mil desejos represados,

Seu ardor me margeia o coração.

Ao sorver seu olhar por um instante,

Ao sentir o odor de seu encanto,

Vivi luta de santo com dragão.

XI

Seu perfume abissal se fez afagos,

E nas delgadas curvaturas de seus braços,

Teci versos que alçaram aos céus.

Vendaval cujo verso fez alado,

A angústia definida no traçado

Anguloso do vazio de seus véus.

XII

Vou tanger cada verso da canção,

Vou abrir a porteira da ilusão

E aboiar estrelas ao luar.

Nua e crua vou compô-la à revelia,

Sua imagem a mais louca fantasia,

Tenra teia em vertigem a bailar.

XIII

Sua lembrança se fixa no afeto,

Na fugaz armadilha do meu verso,

No ardor que margeia o coração.

Viver não é só céus e carinhos,

Beijo cardos à beira do caminho,

Vivo luta de santo com dragão.

Do livro Fogo de Lua & outros poemas.

Recife:UBE/PE,2004,p.53.

PS: Todos os meus poemas estão devidamente registrados no escritório de direitos autorais da Fundação Biblioteca Nacional/Rio de Janeiro/Brasil

odmar braga
Enviado por odmar braga em 30/12/2005
Código do texto: T92520