Demora cinza

Demorei três horas para beijar os lábios dela

Faltou-me tempo para contar os fios do belo cabelo

Como faltou tempo resolvi penteá-los

Pensei nas montanhas de Minas

Nos cabelos de cachoeira

Comecei a contar os poros dos seus seios

Verificar as curvas que esconde

A grande anca que sustenta

O sorriso aberto e largo que me oferece

E implorei para dormir em sua nuca

Ali encontrei a gruta em paz

Fiquei quietinho esperando o tempo macabro passar

Até que pensei em dormir para sempre

Acordei morrendo na manhã cinza do inverno que se aproxima

O tempo, meu maior inimigo, passou

Ela novamente beijou minha testa triste

Fechou a porta, tapou a nuca

E tive que enfrentar a humanidade,

a finitude e a podridão que é este mundo dos bípedes humanos