Ele, tantos
Ele queria ser meu mar, barco, porto e abrigo,
queria me oferecer o que eu nunca tivera,
queria ser bem mais que um amante-amigo,
mais que um sonho ou uma doce quimera.
Não se modifica o que não pode ser mudado,
não se pode (re)inventar a vida e o destino;
em nós habita um ser, muito antes fadado,
a seguir passos escanhoados ou sem tino,
mas sei que se pode mudar a entrada ao mar,
que se pode escolher a onda a seguir,
que se navega com bússolas no proar
mas que também se pode ser instinto, ao ir.
E esse instinto de navegação o trouxe a mim,
entre as minhas coxas abertas e querentes
a que me entrasse, emergisse sem fim
e que na minha mareada me cravasse os dentes.
Que fizesse do bico do meu seio o ponteiro,
enlouquecido e túrgido, rígido e rosado
salpicado do sal da saliva ou de um dedo festeiro,
rolando-o entre as carnes de um mar entesado.
A fazê-lo brindar-me em taças no solo do convés,
levar-me aos porões e sorver-me como vinho
tendo-me em aberto as pernas e os pés,
tomando-me por dentro com a língua em carinho,
resguardando-me em seus braços como meu desejo,
sendo porto e abrigo, do meu mar, comandante,
satisfazendo meu ondular no mirante de um beijo
e sendo mais que destino-desatino: sendo amante.
Tendo o farol dos meus olhos a mostrar o rumo
e a imensidão da minha carne ao seu baluarte,
fazendo minha nau estabilizar-se no prumo
como um escultor na sua maior obra de arte.
E a isso, ele o fez com maestria e o meu orgulho
foi vê-lo altivo e poderoso, sendo tão diverso,
ora abastecendo-me, ora me levando ao mergulho,
ora sendo tão dolorosamente real, ora sendo verso...
Sampa, 15.04.2008
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