Olhos do querer: Em seis atos.

Genre: Literature & Fiction

Author: Léa Ferro

1 - Cetim:

As sombras intimidam-se diante a força do sol

Permitindo raios sobre as águas verdes

De olhar estendido sobre a face que ensaia sorrisos

Ela vê uma canção que se aproxima

E uma canoa que abriga dias e noites de sensações.

Perdida diante as palavras novas

Ela apenas observa o embalar das ondas

E a canoa que ao longe desliza nos sonhos

Em clarão de luar, a canoa regressa mansamente

Como quem ameaça lançar as âncoras em novo cais.

De mãos espalmadas, recebe a corda que a atraca

Sorrindo num silêncio que ofusca a luz, canta versos

E ameaça afundar o baú dos tempos velhos e náufragos...

As manhãs se iniciam, as noites lhe chegam, as madrugadas se apressam

...O entardecer vem em tons de lilás sob a voz macia.

Léa Ferro. 11-04-2008.

2 - Canto da sereia:

Ela mora no mar e se veste de céu azul anil

Ela brinca com as conchas, ela baila na areia

Ela encanta ao dançar num sorriso gentil

Trazendo a paz no seu doce canto de sereia.

Ela mora no mar e carrega estrelas na mão

Em cada palmo das águas ela reina em luar

Morena menina dos olhos da paixão

Desliza faceira abraçando as ondas do mar.

Ela mora no mar da saudade navegante

Quando canta traz o sol ao olhar da emoção

Faz-se vivo o canto da sereia embriagante

Ela mora no mar, e no mar, do meu coração.

Léa Ferro. 11-04-2008.

3 - Olhos do querer:

Em teus olhos de cristais,

Moram olhos do querer

Tons de azul ou de lilás,

São olhos de quem sabe ler

Quando negros, quero mais

Sentir os olhos em meu ser

Cantam versos dos teus (tão meus) ais

Os olhos do meu bem querer.

Léa Ferro. 11-04-2008.

4 - Solidão:

A sala escura não desvenda segredos

Não conta as palavras guardadas na memória

Nem resguarda a penumbra dos pensamentos.

A sala se move diante os olhos cansados

A sala escura gira-gira e o som se agita

E os olhos dela se fazem presentes, enfim.

O som que chega é de uma voz equivocada

E fere o silêncio talhado em nanquim

A sala desenha os sonhos preservados na relva da noite.

A sala escura abriga o relógio das horas passadas

Remete os movimentos aos confins do Egeu

E grita num salto arrancado da garganta a solidão em mim.

Léa Ferro. 11-04-2008.

5 - Doce mar em mim:

Doce mar salgado

Mar desgarrado e preso em meus olhos

Amor maior em mim... Que o mundo.

Doce mar me acalma... E me agita

Amor maior das mãos em meu peito árduo

Doce mar que me anima e mora em mim.

Verde mar onde caminho

Onde aprendi a caminhar: - chorando e rindo.

Mar, meu mar sagrado que me escreve.

Mar líqüido que em mim é sólido

É rocha, é força, é terra, é guerra e é paz

Transparente, louco e infinito, me refaz.

Doce mar salgado

Que em mim é santuário, deus, império, fé, por fim

É o amor maior em mim... Que a vida.

Léa Ferro. 12-04-2008.

6 - Uma canoa:

Uma canoa tem mais anos do que eu

Não teme a correnteza,

Enfrenta a arrebentação,

Sobressai às tempestades,

Resiste ao sol.

Uma canoa vestida de azul

Mora em meu quintal

Uma canoa amada e armada de luz

Conta a minha história

E em mar calmo, me seduz.

Léa Ferro. 12-04-2008.

Léa Ferro
Enviado por Léa Ferro em 22/04/2008
Código do texto: T957737
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