Em aconchego

Regresso de onde jamais parti,

trago os ungüentos nos lábios,

passeio pela tua pele que feri

e te sorvo a dor dos alfarrábios...

Dou-te o meu silêncio mais repleto

com as palavras dos carinhos,

as mãos, a boca, meu ser completo

te embalando nas minhas coxas ninho.

Te contarei da ausência tão presente

e curarei teu corpo da ansiedade;

minha remissão presa ao que sente

meus olhos repletos da tua saudade.

Teu corpo curado com ervas e mel,

tua língua acarinhada com a minha,

os azuis das notas cadenciadas do céu,

tua saliva na minha boca em rinha;

e te falarei com a ponta dos dedos,

te contarei das noites de espera,

cada célula desvendada dos segredos,

cada cicatriz transformada em quimera.

Teu sorriso espelhado outra vez,

teu corpo cansado da luta de guerreiro,

a voz, a pele, o suor da tua tez,

estreitados no meu corpo por inteiro.

E te darei o sonho ensolarado,

a carícia do beijo a que se recupere,

o leite do meu seio verterá a que seja curado

da distância que essa vida nos impele.

[Entrelábios]

Sampa, 27.04.2008

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