Desejos cativos - Odes à Sírius:

1 - Anatomia:

Tuas mãos...

Dois ramos de árvore pêndula sobre as folhas brancas

Estreitam-se e lavam-se sobre as montanhas poéticas da pele árdua

Lascívia em teus dedos a enamorar-se dos cristais olhares.

Teus lábios...

Duas luas soltas mergulhadas no céu de um desejo ondulante

Como frutas suculentas de estrelas bailantes pelo ar

A serem devoradas, devoradora boca tilintando no luar.

Teus olhos...

Raios de luz a caminhar no desfiladeiro tom das cores anoitecidas

Vaga-lumes nas planícies dos seios estremecidos pela brisa beijo

Mares que se derramam no âmago enlouquecido voraz.

Tua pele...

Pérolas além das ostras navegáveis que cantam ao saciar

Macias nuvens refletidas sobre as águas do pouso aconchegante

Devota cor nativa que se banha em fogo ao se revelar (amor).

Léa Ferro. 01-04-2008.

2 - Suposições:

Labaredas esconsas vivem sobre a dor do teu luar

Oposto aos meus, que te desejam, os teus olhos eremitas

Lavam-se na poesia que te rege e me proíbe palavras

Acalento-me em te olhar, em te querer, em me calar.

Léa Ferro. 01-04-2008.

3 - Sírius:

És estrela mais brilhante do anoitecer

Caminhas pelo céu, deixas teus versificados rastros

Rabiscas teus passos, em ti adormeço sorrindo.

És orvalho que mora na folha verde da manhã

Chuva fininha em madrugada de amor aconchegante

Luar de carinho saltando das luzes pra mim.

Tu és a casa de barro quando eu sou passarinho

És flor que alimenta as abelhas, dá pouso as borboletas...

...Enriquece os colibris. És a nuvem em que me deito.

Tu és o casulo quando eu sou o dia mais frio

És ostra que abriga a pérola no mar gelado

És desejo cativo, azul em meu céu, estrela pra mim.

Léa Ferro. 01-04-2008.

4 - Teu corpo:

Em teu corpo deito os meus versos

Que te advinham segredos ousados

E te despem os meus olhares aflitos.

Faz-te nua e inteira na poesia

E te lavas de delírio murmurante

Tal qual o mar que se agita em fervor.

Teu corpo moldado pelos deuses

Guarda palavras, desenha planícies,

Desvenda silêncios de desejo.

Faz-te nua e brilhante mulher de alvoradas

Quando tuas pupilas se acendem

E embarcas na imensidão da entrega.

Léa Ferro. 01-04-2008.

5 - Revelação:

Amanheces na claridade dos desejos maciços

Iguaria que acende a fome dos meus olhos

Rompes o aço das muralhas que me guardam

Oro em silêncio se diante de ti estou em descuido

Louvo o olhar nu que traz sentimentos de paz

Germinando sonhos ousados em meus sonhos.

Léa Ferro. 01-04-2008.

6 - Mar em ti:

Mar em ti, no céu e em mim

Assopra as velas brancas

Rústicas pelos ventos etéreos.

Em ti o mar se acalma

Agita-me o teu mar remanso.

Trovões nascem em meu peito

Indelével mar de desejos.

Léa Ferro. 02-04-2008.

7 - Por teus lábios:

Por teus lábios decifrarei rudes versos

Buscarei pérolas nos mares sagrados

Mergulharei rumo às águas do oeste

Voarei na calda dos cometas dourados.

Os teus lábios são estrelas amadurecidas

Suculentas, insaciáveis, desejante vaidade

Os teus lábios são meninas adormecidas

Fios de ouro, pôr-do-sol em tempestade.

Por teus lábios beberei o vinho tinto

Liquido, quente, voraz, embriagante

Em teus lábios morarei numa saudade

Tropical, itinerante, teso, delirante.

Os teus lábios são donzelas de alquimia

São floreiras, ramos verdes, alçapão

Os teus lábios são loucuras murmurantes

Vôo inócuo que me lava de paixão.

Léa Ferro. 02-04-2008.

8 - Regresso:

(A Glorinha)

Meu povo vive com saudade

E com brada vontade

De voltar a terra.

Quando ouve uma canção

Faz-se presente a emoção

E a alma se revela.

Aroma de comida caseira

Seja gaúcha ou mineira

Traz recordação.

Quando o sol se levanta

Bate na garganta

O preso coração.

Quando se é Sudeste

Venta o noroeste

E no Sul, minuano.

Vem do Norte e não se perdoa

Quando na terra da garoa

Passa mais um ano.

E nos dias de festejo

Aumenta o desejo

De pisar o chão.

Eu querendo o rio Guaíba

Tu, a Paraíba

A nossa paixão.

Quando a saudade é do Sul

Qualquer céu azul

Enche de lembranças.

Mas, se solo é Centro Oeste

A saudade é Nordeste

E nos faz criança.

Aprende a viver tão saudoso

O meu povo é bondoso

E regresso é esperança.

Léa Ferro. 02-04-2008.

9 - Sonho azul:

Enquanto amanheces...

Amanhecem-me, em sinfonia

Os pequeninos poetas:

Colibri, Tié sangue, bem-te-vi,

Andorinha, Sabiá, Sairinha.

Solidários serestas

Cantam em azul e lilás

Melodia de amores litúrgicos

Cantam meus sonhos

Trazem-me a paz.

Sonho azul

Pássaros, meninos, poetas

Trazem as cores que eu não conhecia

Fazem do amor, melodias

Deixam meu coração em festa.

Léa Ferro. 05-04-2008

Léa Ferro
Enviado por Léa Ferro em 29/04/2008
Código do texto: T967947
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